Um dia, essa semana, acordei me sentindo mal. Uma mistura estranha de enjôo e dor de cabeça. Refleti sobre o dia anterior, não havia consumido nada de estranho. Tentei trabalhar, não consegui. Declarei 'dia de saúde', como a gente chama na minha empresa quando não consegue trabalhar por estar mal.
Sentei na minha mesa e fiquei refletindo - o que fazer? Bem, tomei um remédio para ajudar os sintomas e comecei a pensar nos meus dias. Ando lotado de trabalho vindo de diversas fontes. Tanto do meu emprego full-time como de outros projetos paralelos que tenho, mentorias, aulas que dou, consultorias, aulas que faço, etc. Olhei para minha agenda, meu Todoist, minha mesa, minha gaveta - tudo estava bagunçado.
A sensação era de sufocamento. Onde eu olhava, não conseguia ver o que deveria fazer. A quantidade de informação era absurda e separar sinal de ruído era praticamente impossível. Então eu parei e comecei a organizar as coisas.
Minha principal ferramenta? Dizer "não" para coisas que não faziam mais sentido, responder aquele e-mail que me propunha pegar 4 tarefas dizendo que eu poderia - naquele prazo - pegar no máximo uma ou duas, jogar fora aqueles 3 cabos USB-C que já não funcionavam, mas estavam na primeira gaveta do meu armário, cancelar aquele MBA aleatório que eu tava fazendo e não estava conseguindo aproveitar, alinhar expectativas com projetos que assumi, limpar armários.
Enfim, encontrar espaço para respirar. Nos cronogramas, nos e-mails, nas gavetas, no dia-a-dia. Nos nossos dias e na nossa era, temos muitas possibilidades. Podemos fazer muito mais do que qualquer geração jamais sonhou. Quer aprender um pouco de Polonês? Bem, você pode instalar um app de idiomas, navegar pela Cracóvia no Street View, ler jornais poloneses on-line e até conversar com poloneses, tudo isso em pouco mais de uma ou duas horas na internet.
Informação, como diz o título de um livro de James Gleick, virou uma inundação (The Information: A History, a Theory, a Flood). Com tantas possibilidades, é fácil querermos fazer muito e nos esquecermos do que é mais importante, do que tem mais impacto, do que queremos fazer de fato. E nós, pessoas da computação, somos particularmente vulneráveis a isso, simplesmente pelo número gigantesco de possibilidades naturais da nossa área, nossa exposição gigante à tecnologia e os diversos incentivos do mercado para fazer mais coisas.
Minha dica? Evitem precisar parar de maneira meio forçada para pensar em como andam seus dias e o que vocês tem feito. No atrito diário, é fácil perder noção - eu mesmo costumava fazer revisões semanais todas às sextas e parei de fazer nas últimas muitas semanas, simplesmente porque deixei outras coisas ocuparem o lugar. Infelizmente, perdemos o fio da meada de vez em quando, acontece. Por mais vigilante que a gente fique, uma hora podemos nos ver numa bola de neve. O importante, para mim, é fazer as pazes com isso, não me sentir culpado pela eventual bagunça, limpar e pensar em como evitar que ela apareça de novo.
O nosso cérebro, afinal, vai arrumar tempo para descansar. Quer a gente queira, quer não. Quer a gente planeje por isso, quer não.